Gerente de Produto: a função e as práticas recomendadas para iniciantes

Primeiro, uma confissão: há dez anos, quando eu fui convidado a me candidatar para uma vaga de gerente de produto na Atlassian, eu não sabia o que era a gestão de produtos. Essa incerteza não era algo incomum. Ainda que a gestão de produtos exista de um jeito ou de outro há muitas décadas, o cargo de "gerente de produto" só começou a ganhar atenção há menos de 20 anos. Ainda assim, vejo palestras em conferências chamadas "O que um gerente de produto faz?" (Na realidade, eu meio que dei uma dessas palestras.)

A equipe estar ou não aderindo a uma certa prática ágil (e qual delas) pode complicar o entendimento da função de um gerente de produto. Por exemplo: se uma equipe está praticando Scrum, ela também precisa de um proprietário do produto.

Enquanto um gerente de produto define a direção do produto por meio de pesquisa, estabelecimento de visões, alinhamento e prioridades, o proprietário do produto deve trabalhar mais próximo da equipe de desenvolvimento para agir conforme as metas que o gerente de produto ajuda a estabelecer.

Em geral, a divisão tende a ser a seguinte:

Envolvido em atividades diárias

Mas as responsabilidades podem mudar um pouco quando a composição e as práticas da equipe também mudam. Por exemplo, se a equipe não pratica Scrum (pratica Kanban ou outra coisa do tipo), o gerente de produto talvez tenha que cuidar da priorização pela equipe de desenvolvimento e fazer um esforço extra para que todos estejam em sintonia. Por outro lado, se a equipe pratica o Scrum, mas não tem um gerente de produto, o proprietário do produto muitas vezes acaba assumindo algumas das responsabilidades do gerente de produto.

Como todos esses elementos podem se tornar muito confusos muito rápido, as equipes têm que ter cuidado ao definir as responsabilidades ou podem correr o risco de acabar voltando ao jeito antigo de desenvolver software, onde um grupo escreve os requisitos e os arremessa sobre a cerca para que a outra equipe pegue e comece a criar. Quando é assim, as expectativas ficam desalinhadas, tempo é desperdiçado e a equipe corre o risco de criar produtos ou funções que não satisfaçam as necessidades dos clientes.

Assim como não existe só um tipo de equipe, um dos aspectos mais interessantes da função de gerente de produto é que não existe só uma maneira de trabalhar nela. Durante as últimas duas décadas, o ofício explodiu em popularidade e abordagens. Ao contrário dos designers, que conseguiram criar segmentos como designers de interação, designers gráficos, designers de movimento e por aí vai, os gerentes de produto, no geral, ainda estão lutando para rotular seus diferentes pontos fortes.

Para complicar mais, as pessoas estão só começando a seguir a área de gestão de produtos como a área em que planejam ficar. Enquanto as gerações mais antigas "caíram na gestão de produtos", vindas da engenharia, do design, das finanças ou do marketing, as gerações mais recentes estão começando suas carreiras com a gestão de produtos em mente.

Levando esses aspectos em consideração, há uma série de habilidades e práticas que qualquer bom gerente de produtos vai precisar desenvolver.

Não faz muito tempo, um colega comparou a gestão de produtos com um cargo político. Não está muito longe disso. Tanto o gerente de produto como o político têm uma quantidade de recursos predefinida. Cada uma das funções precisa de um profissional que faça o melhor uso desses recursos para alcançar um objetivo maior, sabendo que nunca vai agradar a todos.

Em algum momento, o gerente de produto vai precisar decidir entre: uma função que pode fazer um cliente grande feliz, mas que vai deixar 100 clientes pequenos insatisfeitos; manter o status quo do produto ou traçar um novo caminho de expansão de alcance e alinhamento com objetivos empresariais maiores; ou se o foco vai ser no que é lindo e maravilhoso ou no que é chato e importante.

A compreensão clara dos custos e benefícios de cada escolha guia o gerente de produtos em direção à decisão certa.

Gerentes de produto precisam conhecer o terreno melhor do que qualquer outra pessoa. É raro começarem do zero. O mais provável é que gerentes de produtos caiam em uma situação que já está em andamento. Se começarem a executar sem tirar um tempo para conhecer o contexto, vão tomar decisões erradas.

Um bom gerente de produto aciona os freios e começa fazendo perguntas. Se você está começando a sua carreira na gestão de produtos, use os primeiros meses para falar com o maior número de clientes possível. Fale com o maior número de partes interessadas internas que conseguir. Entenda o modelo de negócios. Entenda a história. Entenda como pessoas diferentes são influenciadas. Entenda como as decisões são tomadas. Só aí é que você vai poder começar a decidir por conta própria.

Gerentes de produto não podem decidir tudo. Acredite. Eu tentei. No fim do dia, eu quase sempre tenho mensagens não lidas. Estou sempre ocupado. Mesmo que eu passasse o dia inteiro respondendo perguntas, eu nunca conseguiria terminar.

Mas participar de cada decisão não é o trabalho do gerente de produto (pelo menos não deveria ser). Um dos segredos para uma excelente gestão de produtos é dar poder à equipe para que ela possa tomar as próprias decisões, o que pode ser alcançado pela criação de um cérebro compartilhado — ou uma forma de tomar decisões e um conjunto de critérios para escalabilidade. Quando alguém faz uma pergunta ao gerente de produto sobre uma decisão que poderia ter tomado por conta, na grande maioria dos casos é porque a pessoa não teve contexto o suficiente para decidir por si só. Bons gerentes de produto criam esse contexto.

Eu conheço uma gerente de produto júnior que tem respeito quase universal da sua equipe, mesmo que, no início, muitos dos membros teriam escolhido alguém mais experiente, caso pudessem. Como ela fez com que mudassem de ideia? Ela saiu para tomar um café com cada uma das 30 pessoas da equipe e ouviu o que tinham a dizer.

A influência acontece de várias formas. Ouvir as pessoas e entender como elas são influenciadas é a primeira parte. Descobrir como fazer com que elas embarquem no seu ponto de vista é a segunda. Aprender a ser um ótimo contador de histórias, mesmo quando você não tem muitos dados para reforçar a sua visão, é um caminho longo. Algumas pessoas não vão se convencer até que vejam como você trabalha. Entender quais alavancas puxar com qual pessoa é a chave para liderar sem nenhuma autoridade direta.

Fazer concessões vai deixar pessoas infelizes, é inevitável. O truque é primeiro fazer as concessões certas e então conseguir explicar por que decidiu isso. Se você for bom em explicar a sua decisão, as pessoas podem até não gostar dela, mas, na maioria das vezes, vão respeitar a forma como você fez isso. E, mesmo que não respeitem, um bom gerente de produto acha um jeito de lidar com isso.

Para mim, gerentes de produtos excelentes são um em um milhão. Eles são as pessoas que podem fazer tudo o que foi mencionado e estabelecer visões de produto incríveis. É um tipo raro que pensa adiante, tem alta capacidade de influência e consegue explicar a lógica por trás de uma decisão e convencer as pessoas dessa decisão, mesmo sem dados. Estou falando de pessoas como Steve Jobs e Elon Musk.

A gente idolatra essas pessoas, em parte, porque é satisfatório colocar um nome e um rosto em uma grande conquista. Mas em 99% das vezes, produtos excelentes não são criados por um só grande pensador. Eles são criados por equipes de pessoas boas fazendo trabalhos muito bons. A função do gerente de produto é desenvolver sua maneira única de guiar esse trabalho.